Consolo ao Ferido
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Consolo ao Ferido
Tony Cooke
Recentemente, eu falei para a congregação do pastor Terry Roberts, perto de St. Louis, Missouri. Ele me pediu para ensinar a respeito do luto, e, depois, foram lançados alguns grupos para auxiliar pessoas nesse processo. Foi bom voltar atrás e revisitar alguns materiais do meu livro, Vida após a Morte: Redescobrindo a Vida após a Morte de um Ente Querido. Não somente aqueles que estão de luto precisam de conforto, mas os crentes também necessitam de sabedoria e de graça para ministrar conforto a outros.
A realidade é que (1) Deus é bom e (2) vivemos em um mundo caído com muita dor. Deus não é a fonte de nossas dores, mas é a fonte do nosso conforto. Por mais que queiramos ser pessoas positivas e “permanecer do lado da vitória”, há muito a ser dito sobre a consciência da nossa necessidade de receber conforto e de sermos consoladores. O pastor e evangelista britânico F. B. Meyer falou, “se eu tivesse meu ministério novamente, dedicaria muito mais tempo ao ministério de conforto e encorajamento”.
Salomão comenta, “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria” (Eclesiastes 3:1, 4). Paulo ecoa esse pensamento e indica qual deve ser nossa resposta quando amigos enfrentam as diversas estações da vida. Ele escreveu, “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” (Romanos 12:15). Jesus disse, “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mateus 5:4). Jesus inclusive chamou o Espírito Santo, Aquele que estaria ao nosso lado, o Confortador – “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, a fim de esteja para sempre convosco” (João 14:16).
Uma coisa que eu tenho observado ao longo desses anos trabalhando com pessoas é que cada um se comporta de uma forma diferente quando se trata de lidar com a perda. É injusto comparar experiências e esperar que todos lidem com suas perdas da mesma forma. Paulo parecia ser o tipo de pessoa que sentia as coisas de forma bem profunda. Paulo falou que, se seu amigo e companheiro de trabalho, Epafrodito tivesse morrido, ele teria “tristeza sobre tristeza” (Filipenses 2:27).
Outros no Novo Testamento também expressaram profunda emoção. Em Atos 8:2, lemos que, “Alguns homens piedosos sepultaram Estevão e fizeram grande pranto sobre ele”. Paulo falou para os Corintos, “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda a consolação! É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus” (2 Coríntios 1:3-4).
A maioria das pessoas quer confortar as outras, mas normalmente elas falham em saber como fazer isso. Quando pessoas ouvem que alguém está passando por um processo de perda, elas tendem a fazer uma das duas coisas: (a) Retiram-se de perto da pessoa que está sofrendo por causa de suas próprias inseguranças e de falta de confiança, ou (b) Começam a falar uma série de clichês e chavões, sentindo a necessidade de compartilhar suas próprias experiências pessoas (“Eu sei exatamente como você se sente pois eu passei por uma perda…”). No momento certo, compartilhar sua experiência com outro pode ser útil, mas maior ênfase deve ser colocada na empatia e no ato de ouvir, especialmente no começo do processo. Joe Bayly compartilhou o seguinte:
Sensibilidade mediante o luto deve nos tornar mais calados, mais ouvintes… Eu me sentia contorcido pela dor. Alguém veio e falou para mim sobre Deus, sobre o porquê disso ter acontecido, sobre a esperança para além da sepultura. Essa pessoa falava continuamente; falava sobre coisas que eu sabia que eram verdades. Eu estava indiferente, desejando que ela fosse embora. E, finalmente, ela foi. Outro veio e se sentou ao meu lado por uma hora ou mais, ouviu quando eu falei algo, respondeu-me brevemente, orou e foi embora. Eu estava movido. Odiei vê-lo ir embora.
O livro de Jó é o mais mal-entendido e mal interpretado livro de toda a Bíblia. Jó experimentou uma perda horrível e insondável. Seus dez filhos morreram. Muitos de seus empregados foram mortos e seu império econômico entrou em colapso. Sua saúde se deteriorou terrivelmente e o único “encorajamento” que recebeu de sua esposa foi que ele amaldiçoasse Deus e morresse (Jó 2:8). Três amigos vieram reconfortá-lo e, de primeira, eles fizeram um trabalho muito bom (Jó 2:11-13):
Ouvindo, pois, três amigos de Jó todo este mal que lhe sobreviera, chegaram, cada um do seu lugar… e combinaram de ir juntamente condoer-se dele e consolá-lo. Levantando eles de longe os olhos e não o reconhecendo, ergueram a voz e choraram; e cada um, rasgando o seu manto, lançava pó ao ar sobre a cabeça. Sentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; e nenhum lhe dizia palavra alguma, pois viam que a dor era muito grande.
Você tem que admirar as intenções e a resposta inicial desses três amigos. Eles vieram de longe para estar com Jó e deram a ele o que, hoje, se chama “ministério da presença”. Eles estavam com ele. É importante lembrar que a pessoa a quem você dá suporte durante a crise provavelmente não se lembrará do que você disse, mas ela nunca se esquecerá de como você a fez se sentir.
O que fez a situação no livro de Jó tão difícil é que, quando Jó começou a amaldiçoar o dia do seu nascimento, acusando Deus de tê-lo tratado injustamente, esses três amigos começaram a atacá-lo. Eles essencialmente disseram que ele estava sendo punido menos do que merecia, e que a devastação que ele experimentou não era nada mais do que a lei da semeadura e da colheita.
No final do livro, descobrimos que Jó e seus três amigos disseram muitas coisas que não eram verdadeiras. E fica claro que muito do que os três amigos disseram não era amável, edificante ou útil. Na Talmud, mais tarde, foi escrito: “Não responsabilize nenhum homem pelo que ele diz em sua dor”. Quando pessoas estão profundamente feridas, não é o melhor momento para tentar corrigir sua teologia!
Lembremos que Jesus veio para “curar os quebrantados de coração”, “consolar todos os que choram” e para dar às pessoas “uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado” (Isaías 61:1-3). Jesus se compadeceu das nossas fraquezas (Hebreus 4:15) e se preocupou profundamente com cada um de nós. Isaías 53:3 descreve Jesus como um “homem de dores e que sabe o que é padecer”. Considere alguns dos sofrimentos que Jesus conheceu:
- Jesus cresceu com o conhecimento de que Herodes, “mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo” (Mateus 2:16).
- Mediante o perigo de morte, Jesus, quando menino, viveu no Egito como refugiado com Sua família (Mateus 2:13-21).
- Possivelmente, Jesus experimentou a dor de perder seu pai natural, José. Essa consideração é baseada no fato de que José não é mais visto após a viagem a Jerusalém (Lucas 2:41-51) quando Jesus tinha 12 anos de idade.
- Jesus sentia profundamente a dor dos outros. Lucas 19:41 diz: “Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou”. Ele chorou no túmulo de Lázaro (João 11:35). Quando Jesus ouviu a respeito da decapitação de João Batista, ele “retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, à parte” (Mateus 14:13).
- E quanto à dor emocional e espiritual que Jesus experimentou ao se aproximar do Calvário? “E levando consigo Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo” (Mateus 26:37-38).
A compaixão de Jesus é vista ao longo das Escrituras! Isaías 42:3 diz: “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega; em verdade, promulgará o direito” Essa é a natureza e o coração de Jesus para conosco! Devemos relembrar o que John Henry falou, “Deus não nos conforta para nos tornar confortáveis, mas para nos tornar consoladores”.
Esse artigo foi traduzido por Gabriella Kashiwakura.[/vc_column_text][vc_separator color=”blue” style=”dashed” border_width=”2″ el_width=”80″][vc_column_text]Tradução livre do título do livro Life After Death: Rediscovering Life After the Loss of a Loved One, ainda não lançado no Brasil.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]